Economista Explica os Efeitos das Novas Tarifas dos EUA Contra o Brasil

O economista William Bagdassarian analisou os possíveis impactos econômicos da decisão dos Estados Unidos de aplicar uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros. A medida, segundo ele, pode prejudicar diversos setores da indústria nacional e sinaliza um cenário de maior tensão comercial entre os países.

Apesar do tom político usado no anúncio norte-americano, Bagdassarian destaca que a decisão segue uma linha já adotada em relação a outras economias semelhantes à do Brasil. “Ele aproveitou o debate político para inserir uma coisa que já ia fazer. A própria nota americana não condiciona a retirada das tarifas à questão política, e sim a acordos comerciais”, explicou.

O economista aponta que a medida afeta principalmente produtos semibeneficiados, como óleos refinados, carnes processadas e café tratado — principais itens exportados pelo Brasil para os Estados Unidos. “A exportação para os EUA é diferente da feita para a China. Lá, vendemos produtos com algum nível de beneficiamento. Com as tarifas, esses produtos perdem competitividade e a margem dos produtores brasileiros encolhe”, alertou.

Bagdassarian ressaltou que o impacto pode atingir empresas com balanços financeiros mais frágeis, com risco de demissões e até de colapso em determinados setores industriais. “Se as margens ficarem muito apertadas, pode haver problemas sérios, especialmente em setores que já estão fragilizados.”

Na avaliação macroeconômica, o especialista destacou o agravamento do déficit em transações correntes, que, segundo ele, já chega a cerca de 70 bilhões de dólares nos últimos 12 meses. “Isso mostra uma fragilidade estrutural na economia brasileira. A entrada de dólares precisa ser compensada com investimento externo, e o atual cenário não é o mais favorável para isso”, afirmou.

Questionado sobre a possibilidade de o Brasil acionar a chamada “lei da reciprocidade” — impondo também uma tarifa de 50% aos produtos norte-americanos —, Bagdassarian se mostrou cético. “Legalmente é possível, mas economicamente não sei se é o melhor caminho. A economia brasileira é muito menor e mais dependente. Retaliar pode piorar ainda mais a situação.”

Para o economista, o melhor caminho seria manter o foco em negociações técnicas e serenas. Ele aposta que o Brasil, por meio do Ministério da Indústria e Comércio, buscará uma saída negociada. “Não é uma catástrofe. Em diplomacia e comércio exterior, tudo é resolvido com calma. O importante é deixar a política de lado e colocar os técnicos à mesa. Isso reduz os danos.”

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