Projeto Terra-Folclore resgata a ancestralidade nordestina e amazônica no Festival do Boi Brilhante em Manaus

Manaus se prepara para viver duas noites de pura emoção e identidade cultural com a estreia do espetáculo “Terra-Folclore”, do Boi Brilhante, que acontece nesta sexta (25) e sábado (26) de julho no Festival de Manaus. O projeto foi apresentado oficialmente em um evento no restaurante Caxiri, no Centro Histórico da capital, reunindo convidados e a imprensa para conhecer os bastidores dessa grandiosa celebração de memória, resistência e arte.

Raízes nordestinas em solo amazônico

“Terra-Folclore” é mais do que um tema de festival: é uma jornada poética que entrelaça a migração nordestina com os mistérios e lendas da Amazônia. Por meio da linguagem do bumbá, o Boi Brilhante exalta a força de um povo que migrou em busca de dignidade e encontrou na floresta novos caminhos para seus sonhos.

O espetáculo propõe uma releitura artística da convivência entre culturas, abordando as marcas que o Nordeste deixou na culinária, na linguagem e no imaginário popular da região Norte. As figuras do folclore, os rituais indígenas e os elementos da floresta surgem como metáforas do enfrentamento e da reconstrução identitária.

Entre lendas, ritos e resistência: os atos do espetáculo

A encenação é dividida em atos que resgatam elementos emblemáticos da cultura popular e ancestral. Um dos destaques é o Ato V, que apresenta a lenda da Matinta Pereira, representada como uma velha bruxa em forma de pássaro noturno que assombra vilarejos com seu assobio. A personagem surge como símbolo de medo e respeito ao desconhecido, reverenciado com oferendas e promessas.

Já o Ato VI homenageia os povos indígenas com o quadro “Aliançamentos pela Liberdade”, exaltando os tuxauas e a cacica Manaó Ana Soares como lideranças na luta contra o genocídio indígena e a opressão histórica. A cena é marcada por força coreográfica, trajes vibrantes e narrativa de enfrentamento.

No Ato VII, o foco é o ritual Worecütchiga, a cerimônia Tikuna que marca a passagem da menina moça à fase adulta. O espetáculo retrata a reclusão no Turi, a preparação com pintura de jenipapo e as orientações das mais velhas, culminando na celebração de reafirmação da identidade Tikuna.

Personagens marcantes e força feminina em destaque

Entre os personagens principais, a Cunhã Poranga Maylin Menezes representa a mulher indígena como guerreira e guardiã da floresta. Já a Rainha do Folclore, Victória Castilho, simboliza a fusão entre tradição e modernidade, com figurino inspirado nas plumagens amazônicas. O ator e pesquisador Raony Silva, por sua vez, interpreta o Pajé Tikuna com forte presença cênica, incorporando rituais e canto em uma performance que impressiona pelo domínio dramático.

Epopeia final e homenagem a Seu Coca

O espetáculo se encerra com uma apoteose que reverencia Seu Coca (Vilson Costa), fundador do Boi Brilhante, apresentado como “o pai do boi”. O momento emociona e reforça o sentimento de pertencimento coletivo do grupo, que busca não apenas competir, mas traduzir os saberes ancestrais em linguagem contemporânea.

Ficha técnica e bastidores de um projeto coletivo

Com direção artística de Adan René, direção de arena de Thyago Cavalcante e mais de 80 profissionais envolvidos na indumentária, coreografia, alegorias e música, o projeto “Terra-Folclore” é fruto de intensa pesquisa e seminários realizados ao longo do ano.

Cada item, desde a sinhazinha da fazenda até os grupos de dança indígena, foi desenvolvido com cuidado, resultando em um espetáculo coeso, emocionante e tecnicamente robusto. Como destaca o encerramento do projeto, “se o coração pulsar diferente, é porque ele virou diamante no compasso Brilhante”.


Fala Amazonas
Matéria redigida com base em cobertura jornalística da apresentação do projeto Terra-Folclore no restaurante Caxiri, Manaus, julho de 2025.

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